Diário de intercâmbio DAY 1 (March 4th; Sunday)

Cheguei às 5 e meia manhã no aeroporto Pearson (YYZ). Descendo do avião fui pegar minha bagagem na esteira e primeira coisa que eu fiz foi ir direto para o banheiro. Não posso dar muitos detalhes, mas depois de algum tempo de voo os banheiros do avião estavam um pouco mais... usados; a partir da metade da noite ficou mais complicado ir até eles. Eles eram dois na frente e dois na parte de trás do nosso segmento na aeronave. Na última vez que utilizei um deles, eu caminhei um pouco mais, acho que era até em outra classe, mas estava tudo mais limpo. 
Depois dali fui até a saída do aeroporto (acho que é maior ainda que o de Guarulhos). Eu fiquei um tempo esperando alguém com uma placa com meu nome, como aparece nos filmes. Até tinha gente ali com nomes de pessoas. Conforme o tempo passava, eu percebia que todos iam embora. Até que depois de um tempo eu vi que um coitado de um coreano, que estava ali há muito tempo, segurava na altura do peito um papel escrito SGIC - era o nome da escola. Aí me apresentei para ele (apontei o dedo e falei "Joel?" ele falou "Yeah" e eu respondi "It's me!") e fomos para o carro. Ele esperava somente por mim, eu era o único a chegar naquele horário. O Inglês dele era muito ruim e o carro cheirava a cigarro, mas ele era simpático.
Se a Terra fosse redonda, no hemisfério norte a lua seria vista de cabeça para baixo, realmente era o que eu via. Tinha uma onda muito forte de terraplanistas naquele ano eleitoral. Eu tinha comprovado que a Terra era redonda. E tinha algumas estrelas diferentes no céu também, apesar de já ter amanhecido. Eu falei isso para o coreano. Falamos sobre cigarro e um pouco sobre a escola também. 

O aeroporto de Toronto é na cidade vizinha à Toronto, Mississauga. Fomos direto para a homestay em Scarborough, um distrito de Toronto do lado leste da cidade. Atravessamos downtown enquanto o sol nascia. Estávamos numa estrada muito larga e bem construída. Acho que era a Highway ON 401 (Macdonald-Cartier), que corta a cidade horizontalmente. Essa coisa nasce lá em Windsor, divisa com Detroit nos EUA e sobe na direção de Montreal. 
Cheguei na homestay, me perdi um pouco e depois do coreano ligar pra hostmom (a dona da casa), que tinha saído pra caminhar, ela apareceu. Eu não tinha a chave de nada, então somente ela poderia abrir a porta pra mim.  Dei um abraço nela, e já deu pra perceber que aquilo era coisa de brasileiro. Ela me explicou tudo, me mostrou onde estava um lanche e depois saiu. Ela trabalhava a semana toda como enfermeira e foi curtir a folga, o domingo. Ela era filipina e morava no Canadá havia uns 10 anos. 
O lanche estava seco, era tipo de um bagel só com o cheddar dentro, sem margarina, sem nada. O orange juice era mais ou menos, meio amargo sem açúcar. Comi quase engasgando, mas era comida, eu estava feliz.. Se o breakfast fosse aquilo ali todos os dias eu ia ficar bem preocupado.
Eu estava exausto, fui tomar um banho. O chuveiro era por calefação, todo de metal e dentro de uma banheira onde tinha que ficar em pé. Tipo um box.
 Dormi cerca de umas duas horas, desmaiei no cansaço mesmo, porque tudo ainda era muito novo, eu não estava na minha cama, nem no estado, nem no país, nem no hemisfério sul do planeta...
A casa era pequena, mas bem bonita. Era na verdade um tipo de apartamento no terceiro andar, pois a residência era em um conjunto que se estendia por um quarteirão inteiro. Tinha uns quatro andares de  casas conjugadas e corredores. O calção, a regata e os chinelos que eu trouxe vieram bem a calhar, bem como eu imaginava. No termostato, o aquecimento sempre deixava a casa a 23°C. 
O quarto era simpático, compacto, pra mim estava ótimo. Uma coisa que me chamou a atenção no quarto foi o balcão cheio de imagens católicas. Parecia que estavam no quarto dos intercambistas justamente para excomungar os espíritos malignos desses estrangeiros pecadores! Exagero, claro, mas com certeza a mensagem ali era tipo "respeite esse lar católico!". Achei estranho mas não julguei. Me lembrei que os filipinos tem bastante influência espanhola, portanto, cristã. Mas tinhas umas imagens de Jesus bem não usuais...


Esse Jesus aqui era muito doido, vai?
À tarde fui pro centro pra testar o caminho pra escola, pra conhecer o metrô. Comprei o monthly pass por 143 dólares canadenses no cartão de crédito, posso pegar trem à vontade durante o mês de março, e são 4 linhas que vão para todos os lados.
Por volta do meio dia bateu a fome. Eu vi que tinha um Tim Hortons bem na esquina de casa. Aí eu coloquei a roupa e saí pra rua.
Primeira saída em Toronto. Tinha uma espécie de porta dos fundos que era de ferro e fechava por fora. Pra entrar só pela frente e com chave. Quando você colocava a cara pra fora parecia que o peso da atmosfera te caía por cima. Era um soco de ar gelado! Adorei! Afinal, eu não escolhi o Canadá porque eu queria passar calor...
O condomínio em Scarborough era bem bonito. Sem muita bagunça, algumas pessoas andando tranquilamente pra lá e pra cá. 
O Sol não fazia diferença, foi o maior frio que eu já tinha sentido até então. E vinha um vento do lago Ontário, que não era muito longe dali, que congelada tudo. 
O Tim's era bem na 960 Warden Avenue em Scarborough.
Me disseram que a últimas vez que tinha nevado em Toronto foi uma semana antes, então havia um pouco neve velha acumulada. 

Eu estava usando uma roupa de algodão não recomendada pra temperatura negativa. Minha cara estava toda vermelha por causa do frio. E eu não conseguia sorrir com o rosto congelado. O vento era inacreditável. Cortante, penetrava na roupa. Mas tudo tranquilo, era só um teste. Sou gaúcho, moro no sul do país e já encarei invernos com temperatura negativa com pouca roupa. Voltei pra casa e coloquei a manta térmica. Melhorou um pouco. Mas eu teria que procurar pelo menos um casaco impermeável o mais rápido possível. 
Pedi um latte ruim e duas rosquinhas sem recheios que eram bem gostosas, as chocolate dip, por 0,99 cada uma. Tim Hortons foi amor à primeira vista. 


Eu pensei que ela podia ter um recheio... Nessa altura do campeonato eu ainda não conhecia a Boston Cream e o French Vanilla!

Voltei pra casa e me arrumei de verdade. A hostmom me perguntou se eu ia ficar em casa o dia inteiro, aí eu disse que não sabia. Ela me sugeriu pegar o metrô e ir para o centro, para não me perder no dia seguinte, o primeiro dia de aula. Achei uma boa ideia.

Saí do metrô bem na estação Dundas e peguei uma rua na direção sul, tentando ver a CN Tower. Encontrei no meio do caminho um britânico que tinha um cheio muito forte de vodca e ele me apontou onde era a CN Tower. Falou outras coisas com um sotaque muito forte também que foi difícil de entender. Eu acho que já tinha visto aquele cara na TV!
Consegui localizar a CN Tower, em consequência me localizei também!
Consegui encontrar a escola, SGIC. Esse era meu objetivo, mas era domingo. A aula vai começar somente no dia seguinte!
Resquícios da neve que caiu uns dias antes...
Perto da estação Museum eu fiquei meio perdido no meio dos monumentos. Esse era o Firefighters Monument. 
Tinha até um mural com os nomes de bombeiros homenageados. 
Mas me impressionava essas casas com forma de castelo. Havia várias. Parecia que estavam ali preservadas há centenas de anos e os prédios pediram licença para subir à volta delas!
Descendo para o subterrâneo da Museum Station, os pilares que sustentam o teto são essas figuras... 
Essa estação do metrô foi  a mais bonita que eu já vi, com certeza. 
Eu como historiador fico bobo com isso. 
A temperatura estava negativa, mas eu estava suando por baixo da bandana. Teve uma hora que eu decidi tirar ela um pouco, aí minha cabeça raspada começou a doer. Passei a mão e caiu gelo dela. O suor tinha congelado. Botei a bandana de volta na cabeça... Então caminhei mais um pouco e fui pra casa.
Da Warden Station para a Warden Avenue. 

O corredor para chegar em casa era gigante. O cheiro era bom, estava tudo limpo. Era tudo muito silencioso e bem cuidado. 
Tomei um banho, peguei a janta na geladeira. Arroz, frango, umas cebolas fritas. Pra mim tá ótimo. Aqueci o prato no microondas e comi. Tava sem sal. Mas isso não era problema, eu tinha que encontrar onde a hostmom guardava os temperos. Ou comprar alguns... 
A mesa era acoplada na pia e nos balcões. E tinha essas cadeirinhas simpáticas! Muito prático! Comi e fui me deitar. Conferi as redes sociais e fui dormir.