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O século XIII é marcado pela intensificação dos contatos comerciais e culturais entre a Europa e o Oriente através do mar Mediterrâneo; pela expansão do comércio; o florescimento das cidades; e o dinamismo que a cultura passou a adquirir, por conta do surgimento e multiplicação das universidades, como a de Oxford (Inglaterra) no século XI ou a de Paris (França) no século XII. Essas universidades eram administradas pela Igreja e utilizavam um método de estudo chamado Escolástica, isto é, um método iniciado em meados do século IX e empregado até o século XVI (período da Idade Média), no qual buscava-se essencialmente estabelecer alguma conciliação/harmonização entre as verdades da fé cristã e o conhecimento filosófico obtido por via racional.
Um professor que lecionava em uma dessas universidades, mais especificamente em Paris, é considerado o expoente da filosofia escolástica. Seu nome é Tomás de Aquino (1225-1274) e uma de suas principais obras é a Suma Teológica.
Para compreender as ideias do filósofo é necessário ter em mente a influência aristotélica que ele sofreu, visto que no século XII ocorre a redescoberta de Aristóteles pelo Ocidente, após sua obra ter sido perdida em meio ao declínio de Roma e às constantes guerras no início da Idade Média. A recuperação dos textos de Aristóteles provocou um impacto enorme no desenvolvimento da filosofia e, no plano da Teologia, influenciou significativamente Tomás de Aquino, o qual fundou uma visão religiosa da obra de Aristóteles.
São Tomás de Aquino por Carlo Crivelli (1435-1495), Itália.
Principais ideias de São Tomás de Aquino
Tomás de Aquino defendia a existência de uma hierarquia entre todas as criaturas (todas elas criadas por Deus). Assim, o homem não é uma criatura como as demais, pois, uma vez que não é dotado apenas de corpo, mas também de alma, através dela pode entrar em contato com Deus e ter acesso ao conhecimento, com isso, ele está em um patamar acima em comparação as outras criaturas.
O ponto de partida para ter acesso ao conhecimento são os sentidos. Assim, retomando este princípio aristotélico, o filósofo cristão afirma que não existe nada no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos. Ao obter esse conhecimento acerca da natureza, o homem estaria usando seu intelecto para se aproximar de Deus, pois foi ele que criou a ordem natural do Universo.
O intelecto humano, além da capacidade de obter conhecimento, possibilita a autonomia, isto é, a liberdade de manifestar e exercer as próprias vontades. Os atos realizados pelos homens direcionam-no para o bem, pois esse é o caminho natural da vontade humana. No entanto, as vezes, o homem age de maneira equivocada e negativa (mesmo que deseje o bem), assim, Tomás de Aquino defendia que sem a ajuda de Deus, o homem irá pelo caminho do mal.
Ademais, com a crença na vida eterna, surgiu a concepção de que o homem garante na vida terrena a sua salvação ou não, pela forma como exerce o livre-arbítrio. Ou seja, Deus julgaria os atos realizados pelo homem durante a vida destes na Terra.
As ideias de São Tomás de Aquino foram transformadas em uma doutrina pela Igreja, chamada de tomismo. O que trouxe diversas consequências, como o crescimento do clero secular – por conta da necessidade dos padres acompanharem os fiéis e ajudarem-lhes a tomar decisões – e o aumento de boas práticas, como a de caridade, visto que são os atos na Terra que irão garantir a salvação após a morte.
Por fim, é possível notar a influência de Aristóteles na filosofia de Tomás de Aquino na sistematização do pensamento, na importância dada aos sentidos e em elementos da ética. Um exemplo é que Aristóteles dizia que, se tudo se movimenta e se transforma, é necessário que se exista um primeiro motor/impulso. De forma análoga, Tomás de Aquino defende que Deus é necessário porque é preciso ter existido uma primeira causa de todas as causas.
Questão – Enem 2018