Uma das maiores discussões da Filosofia é a dicotomia presente no ramo da Metafisica acerca do uno e do múltiplo nas interpretações da realidade. Esses conceitos são abordados por diversos filósofos ao longo das eras, mas para entendermos os fundamentos dessa contenda, vamos precisar voltar lá para a Antiguidade.
Quando falamos de uno e múltiplo nos referimos à “treta” sobre a realidade última das coisas. Isto é, se a realidade que nos cerca é composta de um único elemento primordial ou é composta de uma pluralidade de coisas.
Interpretações sobre a realidade
Nesse momento, você deve estar cercado de várias coisas, como pessoas, animais, eletrônicos e fascistas. Todas essas coisas possuem diferentes formatos, são feitas de diferentes matérias, possuem as mais variadas cores. Ora, há diversos arquétipos de coisas reais ou ao menos que aparentam ser reais.
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Caso a realidade transcenda essas várias paradas singulares, indo além daquilo que nos cerca, podemos entendê-la como una. Dessa maneira, cada elemento no cosmos é uma parte de algo maior, um aspecto de algo que os ultrapassa.
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Todavia, é possível pensarmos que a realidade dos elementos do cosmos está em cada um desses elementos. Ou seja, não existe um todo maior que é composto por esses elementos. Se assim for, a realidade é então chamada de múltipla.
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Logo, nós, na condição de filósofos, acabamos perguntando: seria a realidade reduzida a cada um desses objetos, ou na verdade eles estão contidos dentro de uma realidade muito mais ampla? Indo mais além, seria a nossa realidade completamente perceptível ou existem coisas a nossa volta que não conseguimos ver?
Pensando nisso, separei para você esse vídeo de uma galera que levou essa discussão bem longe e propõe até uma quarta dimensão! Confere aí o vídeo do Carl Sagan explicando:
Pluralismo e movimento
Juntamente com essa discussão existe uma “treta” entre o movimento e o imobilismo (ausência de movimento), representados na Antiguidade principalmente pelos pensamentos de Heráclito e Parmênides
Conta-se que um tal de Zenão, junto com seu mestre Parmênides, fizeram uma profunda reflexão para contra-argumentar as ideias daqueles que defendiam a existência do movimento, como Heráclito. E também defendiam a existência de mais de um elemento primordial. Isto é, o cosmos seria composto de um múltiplo número de elementos em vez de um único elemento.
Paradoxos de Zenão
Para tentar invalidar os argumentos de seus opositores, Zenão criou uma série de paradoxos (cerca de uns 40!). Dentre eles, destacam-se:
O paradoxo de Aquiles: Imagine uma corrida entre um atleta velocista (Aquiles) e uma tartaruga. Suponhamos que é dada para a tartaruga uma vantagem inicial em distância. Aquiles jamais a alcançará, porque quando ele chegar ao ponto de onde a tartaruga partiu, ela já terá percorrido uma nova distância. Quando ele atingir essa nova distância, a tartaruga já terá percorrido uma outra nova distância, e assim, ao infinito.
O paradoxo da flecha imóvel: Uma flecha em voo está a qualquer instante em repouso. Ora, se um objeto está em repouso quando ocupa um espaço igual às suas próprias dimensões, e se a flecha em voo sempre ocupa espaço igual às suas próprias dimensões, logo, a flecha em voo está em repouso.
As contendas entre ideias é o que faz da Filosofia algo empolgante, pois o limite do entendimento humano é colocado à prova ao deciframos nossa realidade.
Os filósofos que defendiam o imobilismo (Parmênides, Zenão e cia) criaram um impasse ao tentar explicar as mudanças que ocorrem no mundo. Em suma, eles diziam que a ocorrência do movimento era uma ilusão dos sentidos. Como essa conclusão não era satisfatória, começou um movimento contrário que acreditava na existência de vários princípios formadores do universo.
Essa oposição era formada por filósofos como Demócrito, o cara do átomo, Anaxágoras, que dizia que a realidade era composta por partículas minúsculas, e um sujeito chamado Empédocles que afirmava que a realidade era composta por terra, água, fogo e ar.
O que unia todas essas visões de mundo era a ideia de que o cosmos não era formado por um único elemento, como diziam Parmenides e Zenão. Mas, na verdade, consistia em vários elementos que, ao se movimentarem, davam vida a uma pluralidade de coisas. É daí o nome múltiplo.
Monismo
Os filósofos pré-socráticos foram os primeiros a postular argumentos sobre o uno. Isso se iniciou quando eles, procurando uma explicação de mundo que atendesse às suas demandas, afirmaram que existia uma substância fundamental na criação do cosmos, a arché.
Boa parte dessa galera pré-socrática compõe a turma dos chamados Monistas. Os filósofos que mais ficaram conhecidos falando sobre isso foram Heráclito e Parmênides, Zenão de Eleia e, é claro, Tales de Mileto.
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Saindo um pouco da Antiguidade, também encontramos a ideia do Monismo em outras épocas ao longo da história. Um exemplo da modernidade é de Baruch Espinoza, que defendeu que devíamos estimar a existência de uma única coisa, a substância.
Por fim, a busca pela realidade última das coisas está no âmago da filosofia, como nos disse Nietzsche ao afirmar que: “quando a ideia tudo é um foi proposta, ela fez de Tales o primeiro filósofo”. Assim, a discussão entre tudo ser uno ou múltiplo é parte vital da Filosofia.