O marxismo é uma teoria política, sociológica e econômica desenvolvida por Karl Marx e Friedrich Engels no século XIX. Ambos entenderam que a Revolução Industrial havia transformado profundamente a sociedade europeia, estabelecendo uma nova configuração baseada na força de produção da burguesia, proprietária das fábricas, e na exploração da classe trabalhadora, o proletariado. Para os dois teóricos, a luta de classes sempre esteve presente na história da humanidade e constitui sua essência. Nesse ponto, divergiam do idealismo alemão, especialmente de Hegel, que acreditava que cada época era moldada por um espírito coletivo de caráter intelectual e metafísico. Para Marx e Engels, ao contrário, são as condições materiais e a ação humana que constroem a história.
O nome dado à teoria desenvolvida por eles foi materialismo histórico e dialético. Marx dedicou-se profundamente a análises econômicas, publicadas em sua obra central, O Capital, e nos Manuscritos Econômico-Políticos. Embora tenha sido influenciado inicialmente por Hegel e por sua teoria dialética, que postulava uma imobilidade metafísica das classes sociais, Marx rompeu com esse pressuposto, afirmando que a transformação das classes era possível e que a subversão só poderia ocorrer por meio da revolução. Para ele, havia uma contradição estrutural no sistema capitalista: os trabalhadores produziam toda a riqueza, mas não tinham acesso aos bens e serviços fundamentais, como educação, saúde e segurança, enquanto a burguesia, sem participar diretamente da produção, se apropriava dos lucros e dos privilégios gerados pelo trabalho alheio. Essa contradição levaria os trabalhadores a tomar consciência de sua condição, organizar-se e conquistar não apenas o poder econômico, mas também o político, retirando-o das mãos da burguesia.
Friedrich Engels foi parceiro intelectual e político de Marx, e juntos defenderam a revolução do proletariado como a primeira etapa de transformação social. Esse processo culminaria na chamada ditadura do proletariado, um período em que o Estado controlaria a propriedade privada, suprimindo as classes sociais e preparando o caminho para o comunismo. O comunismo, para Marx e Engels, seria uma sociedade sem classes, sem exploração e sem propriedade privada, em que os indivíduos poderiam viver em igualdade.
O materialismo histórico tem como característica fundamental a ruptura com o idealismo, que se limita ao plano das ideias e não promove mudanças concretas. Para Marx, a humanidade se define por sua produção material, ou seja, pelo trabalho, e a história é, essencialmente, a história da luta de classes. É por isso que a teoria é chamada de “materialista”, pois coloca a base econômica no centro da análise, e “dialética”, porque entende que o conflito entre classes opostas é a força que move a história. Um dos conceitos centrais do marxismo é a mais-valia, que corresponde à diferença entre o valor de um produto final e o custo de sua produção. Essa diferença é gerada pela força de trabalho do proletariado, mas apropriada pela burguesia como lucro, configurando um mecanismo de exploração.
Entretanto, o contexto no qual Marx e Engels formularam sua teoria era específico: a Inglaterra industrial do século XIX. A estrutura social, baseada na oposição clara entre burguesia e proletariado, mudou consideravelmente nos séculos seguintes. Com o avanço do capitalismo financeiro, da globalização, da tecnologia e da urbanização, as relações sociais se tornaram mais complexas. Ainda persiste a exploração das camadas mais pobres pelas mais ricas, mas de formas distintas daquelas descritas por Marx. Isso levou a releituras e críticas à sua obra ao longo do século XX e XXI.
Um dos primeiros a ampliar o pensamento marxista foi Antonio Gramsci, filósofo e linguista italiano, que, mesmo profundamente comunista, desenvolveu concepções próprias. Para ele, o Estado não era apenas um mecanismo de dominação da burguesia, mas também um espaço de disputa cultural e política, no qual se exercia a chamada hegemonia, ou seja, a capacidade de uma classe impor seus valores como universais. Diferente de Marx e Lenin, Gramsci não reduzia o poder estatal a pura força, mas reconhecia também o papel do consenso.
Hannah Arendt, por outro lado, foi uma crítica severa do marxismo. Influenciada por Heidegger, ela se afastou do materialismo histórico e aproximou-se mais do idealismo hegeliano. Perseguida pelo nazismo, estudou os regimes totalitários do século XX e associou algumas das ideias de Marx, como a ditadura do proletariado, à gênese de sistemas autoritários, como o stalinismo. Para ela, a centralização do poder em um Estado forte representava risco de supressão da liberdade e da democracia.
Já os filósofos pós-estruturalistas, como Michel Foucault e Gilles Deleuze, realizaram críticas de outra ordem. Foucault considerava que o poder não estava apenas concentrado no Estado ou na burguesia, mas disseminado em múltiplas instituições – escola, quartel, hospital, prisão, fábrica – que disciplinavam os corpos e moldavam os indivíduos para manter o funcionamento do capitalismo. Ele descreveu o surgimento dos “corpos dóceis”, constantemente vigiados e controlados. Gilles Deleuze foi além: para ele, no final do século XX já se vivia a era do controle, em que a disciplina não precisava mais do confinamento físico, pois os mecanismos de vigilância e dominação se espalhavam pela mídia, pela internet e pelas novas formas de trabalho flexível. O trabalhador não era mais explorado apenas dentro da fábrica, mas também fora dela, em seu tempo “livre”, continuamente pressionado a ser um empreendedor de si mesmo.
Essas críticas apontam que o materialismo histórico, ao reduzir a análise ao conflito entre burguesia e proletariado, não captava plenamente os novos mecanismos de dominação do capitalismo tardio. Ainda assim, Marx permanece como um dos grandes pensadores da modernidade, e sua teoria continua sendo uma ferramenta central para compreender as desigualdades sociais, mesmo que precise ser constantemente revisitada e reinterpretada.