O ônibus saiu muito cedo de uma estação na linha amarela, ao norte de Toronto. York Mills. Demoramos para achar o pessoal, eles estavam na verdade em um posto de combustível mais adiante.
O ônibus partiu e aos poucos o caminho foi ficando cada vez mais nevado. Eu não só estava do outro lado do mundo, como também estava indo mais longe ainda. Havia muitas fazendas em ambos os lados da estrada. Muitos estábulos, muitos campos. Muitas máquinas de campo em galpões.
A uns 150km de Toronto paramos em Colborne, sede do condado de Northumberland. Era um lugar chamado Big Apple, um paradouro onde os motoristas usavam o banheiro, tomavam café e compravam souvenirs!
Tirei algumas fotos com meu amigo Mr. Peanut, que tinha uma história bem interessante.
Em 1926 alguns agricultores fizeram um concurso para escolher a marca para divulgação de seus produtos e um menino de 14 anos desenhou uma pessoa amendoim, que depois foi melhorado. Até hoje é considerado uma herança histórica daquela época e essa estátua é a única do seu tipo.
Ver essa placa com as distâncias entre as principais cidades do mundo faz a gente cair na real. Estávamos mais perto de muita coisa que parecia do outro lado do mundo do que do Brasil. O Rio de Janeiro estava a mais de oito mil km de nós. A Índia estava a 11 mil...Tudo na Europa estavam mais perto! O Polo Norte estava a 5 mil km...
Andamos um pouco na neve e tinha aviso para circulação de animais, alces, ursos e veados. Senti falta de uma placa pros dinossauros, imagina se algum motorista atropelasse um.
A galera dormiu no bus, eu fiquei olhando, tipo um cachorro na janela com a língua de fora
Depois passamos pela frente do Rideau Hall, residência oficial do premier do Canadá, o primeiro ministro Justin Trudeau.
Fui ouvindo rádio no celular. Aos poucos uma rádio saía do ar e eu tinha que localizar outra. Depois de um tempo as músicas e os anúncios deixaram de ser Inglês e começaram a ser em Francês. Esse momento foi doido, eu tinha saído da província de Ontario e estava na província de Quebec.
O caminho seguia cada vez mais nevado.
CHEGANDO EM MONTREAL
Tudo escrito em Francês. Se escrito em Inglês já era legal demais, em Francês dá muita ideia de você estar completamente perdido num lugar estranho...
Chegamos no hotel Le Governeur na Rue de I'lle Charron, na ilha de Montreal.
O hotel era muito velho. Parecia no Brasil. O preço estava embutido no valor da excursão, então não havia porque reclamar. Era um hotel em Montreal e ponto final!
Saímos na sacada com camisetas. Era um frio incrível, não deu pra aguentar muito tempo.
Um pouco de neve acumulada lá embaixo. Montreal à noite parece chamativa.
O quarto do hotel era meio pequeno pra três caras. Como estava meio cedo na noite, eles deram a ideia de dar uma volta na cidade. Descemos, e eles entraram em um bar para tomar cerveja.
No pub da foto borrada acima, um segurança pediu pra eu tirar a bandana... Eu ia tirar mas eu pensei "Sério? Eu preciso mesmo tirar a bandana?" A bandana faz parte da minha identidade, da minha vestimenta. Ia ser estranho me pedirem pra tirar as calças ou a camisa. Decidi deixar os amigos entrarem e fui perambular pela cidade. Dei muita sorte na verdade, porque vi um cara careca baixinho dando um soco num cara gigante, que caiu no chão como se tivesse morto. Fiquei boquiaberto junto com mais gente que estava olhando ali do lado de fora. Alguém explicou em francês, não deu pra entender nada. Alguém explicou em Inglês, não fez muito sentido. Aí uma santa alma falou em brasileirês mesmo, tudo fez sentido: O cara grandão mexeu com a mulher do baixinho, e tomou um socão na cara e caiu duro no chão. Aí chegou umas três viaturas de polícia e todo mundo saiu de perto.
Fiquei caminhando pela noite até que um cara convidou a gente pra entrar num bar.
Era o Le Moose Garden na 1738 Rue Saint-Denis. Sentamos numa mesa redonda e alta e tomamos cerveja, olhando pra galera que entrava e saía.
Ao nível do solo, Montreal era uma loucura. Andando um pouco pela rua começaram as sirenes de bombeiro pra lá e pra cá. Aí passaram umas viaturas de polícia. Teve uma hora que eu fui parar em uma viela com a parte de trás de um restaurante. Tinha um cozinheiro grande e sujo fumando, conversando com outro cara estranho. Dei meia volta. Tinha muito grafite nas paredes.
Ouvert. Dá pra entender um pouco, vai? Essa era uma tabacaria onde tinha bebida pra vender. Depanneur Tabagie Variet no 1427 Rue Amherst. Mas não podia beber na rua. Comprei uma cerveja, coloquei num saco de papel e levei pro hotel.
Depois das cervejas fomos para o Hotel, e dormimos.