A natureza em constante movimento — o que os gregos chamavam de kínesis — intrigava esses pensadores. Se tudo ao nosso redor se transforma, como é possível que haja algo constante por trás de tanta mudança? Eles então passaram a procurar um princípio originador, algo permanente que estivesse na base de todas as coisas.
As respostas dos primeiros filósofos
Cada filósofo formulou sua própria hipótese sobre esse princípio fundamental (arché, em grego):
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Tales de Mileto propôs que a água era a substância primordial. Para ele, tudo tem origem na água e nela pode se transformar.
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Anaximandro, discípulo de Tales, discordava do mestre e sugeriu que o princípio era algo indefinido e infinito: o ápeiron (o ilimitado), que daria origem a todos os opostos da natureza.
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Anaxímenes apostou no ar como substância básica, afirmando que, ao se condensar ou rarefazer, o ar se transforma em todas as demais coisas.
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Heráclito de Éfeso enxergava o mundo como um eterno vir-a-ser. Para ele, tudo flui (panta rhei), e o fogo seria a melhor representação dessa constante mudança.
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Pitágoras, por outro lado, propôs uma visão mais abstrata: ele acreditava que a matemática e os números estariam por trás da ordem do cosmos, sendo os verdadeiros princípios de todas as coisas.
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Empédocles sugeriu que nenhuma substância única poderia explicar tudo, então indicou quatro elementos fundamentais — água, ar, terra e fogo — como a base da realidade.
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Anaxágoras introduziu a ideia das sementes (ou “homeomerias”) como unidades básicas da matéria. Cada coisa conteria sementes de todas as outras, mas predominaria a que determinasse sua essência.
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Por fim, Leucipo e seu discípulo Demócrito desenvolveram a teoria atomista, segundo a qual tudo no universo seria formado por pequenas partículas indivisíveis e invisíveis: os átomos, que se movem no vazio.
Reflexão filosófica e nascimento da ciência
Esses pensadores deram início a uma maneira nova de compreender o mundo, que buscava regularidade, ordem e explicações lógicas, baseando-se na observação da realidade e na elaboração de hipóteses. Mesmo que suas teorias estejam, hoje, superadas pelos avanços da ciência moderna, o valor de suas ideias reside no fato de que representaram os primeiros passos da razão em direção ao conhecimento sistematizado — algo que a filosofia continuaria a desenvolver ao longo da história.
Ao abandonar as explicações mitológicas e iniciar a busca por causas racionais, os filósofos pré-socráticos colocaram a pedra fundamental de toda a tradição filosófica ocidental. Suas investigações sobre a origem e a transformação das coisas abriram caminho para a ciência e para o pensamento crítico que ainda hoje buscamos cultivar.