HISTÓRIA A 1 - História, tempo e fontes historiográficas

A História pode ser entendida como a ciência que busca compreender a experiência humana ao longo do tempo e em diferentes lugares. Isso significa que ela não se limita apenas ao estudo do passado, mas também considera as relações entre acontecimentos, processos e estruturas que influenciam tanto épocas anteriores quanto o presente.

Durante muito tempo, acreditou-se que a história se resumia ao relato das ações de grandes líderes e governantes, como se apenas eles fossem capazes de transformar o rumo das sociedades. Assim, os registros históricos estavam voltados quase exclusivamente para guerras e política. O cotidiano, os hábitos culturais e as vivências de pessoas comuns eram considerados irrelevantes.

Esse cenário começou a mudar no século XX, quando novas correntes historiográficas passaram a valorizar aspectos antes negligenciados, como a economia, a cultura e a vida social. Um marco importante desse movimento foi a Escola dos Annales, originada na França a partir da publicação de uma revista que questionava o modo tradicional de escrever História.

A carta de Pero Vaz de Caminha é um exemplo de fonte escrita

Entre os pensadores ligados a essa corrente, destaca-se Fernand Braudel, que propôs a análise do tempo histórico em diferentes ritmos:

  • Curta duração → referente aos acontecimentos imediatos;

  • Média duração → ligada às conjunturas, isto é, às condições sociais, econômicas e políticas que estruturam determinado período;

  • Longa duração → relacionada às estruturas profundas, como mentalidades e formas de organização, que permanecem por séculos.

Esse olhar mostra que certos eventos só acontecem porque estão inseridos em um contexto específico. Um exemplo é a escravidão de africanos. O tráfico de pessoas no século XVIII só foi possível devido à conjuntura colonial e escravista da época. Hoje, em um cenário histórico completamente diferente, tal prática seria inaceitável. Essa perspectiva permite perceber que a História é feita de conexões, identificando tanto rupturas quanto permanências ao longo do tempo.

 
Passatempos depois do jantar, de Jean Baptiste Debret

A partir dessas reflexões, os historiadores passaram a ampliar os temas de estudo, incluindo sujeitos antes invisibilizados. Passaram a pesquisar o trabalho, os costumes, a sexualidade, o meio ambiente, as migrações, entre outros. Isso possibilitou que as pessoas comuns também se reconhecessem como parte da História e como agentes capazes de transformar a sociedade.

Mas como os historiadores conseguem conhecer o passado? O trabalho deles se assemelha ao de um investigador: ambos buscam pistas para reconstruir acontecimentos. Essas pistas são chamadas de fontes históricas, que podem ser materiais ou imateriais.

  • Fontes escritas: cartas, jornais, diários, atas, certidões, livros, processos, manifestos etc.

  • Fontes materiais: objetos, ferramentas, moedas, vestimentas, construções, fósseis.

  • Fontes iconográficas: imagens e produções artísticas, como pinturas e fotografias, que revelam modos de vida e pensamentos de determinada época.

  • Fontes orais: relatos transmitidos pela fala, como memórias, lendas, cantos e testemunhos.

Todas essas fontes, quando analisadas em conjunto, permitem que o pesquisador compreenda melhor diferentes sociedades.

Outro aspecto fundamental da História é a contagem do tempo. Diferentes povos desenvolveram formas próprias de medir os anos. Os maias, por exemplo, possuíam tanto um calendário solar de 365 dias quanto um calendário religioso de 260. Já os muçulmanos estabeleceram sua contagem a partir da Hégira, a fuga de Maomé de Meca para Medina, no ano 622 d.C.

O calendário utilizado hoje no Ocidente tem origem no modelo romano. Inicialmente lunar, foi reformado por Júlio César, que o adaptou ao ciclo solar de 365 dias. Como ainda havia uma diferença de seis horas por ano, foi criado o ano bissexto, corrigido a cada quatro anos. Mais tarde, a Igreja cristã definiu o nascimento de Jesus como o marco inicial do calendário.

Na contagem do tempo histórico, usamos unidades como décadas, séculos e milênios. É comum haver confusão: por exemplo, o primeiro século foi do ano 1 ao 100, o segundo do 101 ao 200, e assim por diante. Da mesma forma, o primeiro milênio foi do ano 1 ao 1000, e o segundo do 1001 ao 2000. Atualmente vivemos o terceiro milênio.

Por fim, é preciso destacar um desafio constante para quem estuda História: o anacronismo. Ele acontece quando usamos conceitos e valores atuais para interpretar épocas passadas. Esse erro pode levar a julgamentos injustos ou distorcidos. Por exemplo, criticar a democracia ateniense por excluir mulheres e estrangeiros sem considerar o contexto histórico em que ela surgiu é aplicar padrões de hoje ao passado.

Embora inevitável em certa medida, o anacronismo deve ser controlado. É possível utilizá-lo como ferramenta de reflexão, comparando diferentes contextos sem desvalorizar as especificidades de cada época. Assim, em vez de ser uma armadilha, pode se transformar em um recurso útil para compreender como o presente dialoga com o passado.